Por Cristino Cesário Rocha*
O Brasil viveu, recentemente, no dia 08/01/2023, a invasão dos três poderes da República Federativa do Brasil, deixando marcado, na história brasileira, um tempo sombrio de violência e rejeição à democracia como um dos pilares do estado de bem-estar social e estado democrático de direito. Essa ação não está isolada de um movimento mais amplo, para o qual precisamos estar atentos.
Está em curso, no Brasil, um movimento de extrema direita, conduzido por alguns setores da sociedade, alicerçado na reprodução do fascismo e do nazismo. Não temos, em nosso país, regimes fascistas e nazistas, mas convivemos com células desses movimentos, por meio de atitudes e práticas.
Vez por outra, a polícia encontra pessoas planejando ataques, estocando armas de grosso calibre, cultuando imagens de Adolf Hitler, Benito Mussolini, com tatuagens de símbolo nazista e roupagens da Ku Klux Klan. Observando a dinâmica dos acontecimentos recorrentes, concluímos que não se trata de ações isoladas no nível individual, mas de uma dinâmica que se concretiza por meio de grupos e movimentos organizados, sistematicamente, com os recursos da tenebrosa e repudiável história de extermínio de povos e etnias, por ditaduras nazistas e fascistas.
Materiais encontrados pela polícia, associados ao nazismo, em algumas cidades do Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e outros estados, provam a existência de grupos que ameaçam a paz, a democracia e a dignidade de negros/as, judeus, nordestinos/as, LGBTQIA+, pessoas em situação de rua, invariavelmente atacados pelo movimento nazifascista. Além desses grupos atingidos, atinge-se, com maior alcance, a democracia, direitos humanos e o bem-estar social.
Determinadas características desses grupos nazifascistas configuram um perfil que não deixa dúvida de que eles operam no Brasil, apoiados na lógica do pensamento e da prática da extrema direita. Seus integrantes fazem parte de movimentos, como White Power, poder branco; usam tatuagens com o símbolo da suástica e a cabeça raspada, imitando os skinheads; agridem e matam negros/as, pessoas em situação de rua, homossexuais, nordestinos/as, etc. São, na verdade, organizações criminosas de extrema direita que precisam ser enfrentadas com rigor, em todos os entes federados.
Estamos diante de uma realidade brasileira objetiva: que defende e promove o armamento da sociedade, saldo de um governo de inspiração militar, que criou as condições, entre outras coisas, para o fomento da violência em uma sociedade já saturada pela escalada da violência, em todas as suas formas e expressões. Esse perfil de sociedade armada, deu uma falsa segurança, e muitos, armados, fazem aula de tiro em escola especializada, bastando uma oportunidade para tirarem a vida de pessoas, brutalmente.
O povo brasileiro, em alguns Estados e Distrito Federal, convive, hoje, com o desespero e a esperança. Desespera-se com o anúncio de uma possível invasão em escolas, como a que ocorreram em no dia 27 de março de 2023, na Escola Estadual Thomazia Montoro, na Vila Sônia, zona oeste de São Paulo.
Na ocasião, um adolescente de 13 anos matou a facadas a professora Elisabeth Tenreiro, de 71 anos, e deixou outros educadores e alunos feridos. Mais um atentado foi registrado no país, desta vez em Blumenau, Santa Catarina, quando quatro crianças foram assassinadas.
Diante desse cenário, não basta a polícia ocupar as escolas, num ato provisório. Medidas de segurança nas escolas são importantes e urgentes, mas insuficientes. Fechar portão com cadeado, esconder os/as alunos/as debaixo das cadeiras quando ouvir ruídos, evitar ir à escola no dia estipulado para um suposto “massacre”, policiamento na frente das escolas, pais, mães e/ou responsáveis conferirem mochilas dos/as filhos/as, são atitudes superficiais que não evitam um mal maior: o crime organizado pela extrema direita nazifascista.
Tais medidas são paliativas, mas não conseguem romper células nazifascistas. Sem uma política pública de enfretamento, via força de segurança e polícia de inteligência como politica pública de enfrentamento, continuaremos reféns de ações que agridem o direito de ir e vir e de viver, plenamente, a cidadania e a democracia. É preciso substituir armamento e presídios por escolas, universidades e políticas públicas de promoção da dignidade humana de todas as pessoas, principalmente das camadas populares. O problema não afeta apenas as escolas, mas toda a sociedade. Não pode haver condescendência com quem assume que “quanto pior, melhor”, nem com a supremacia do movimento nazifascista.
Entretanto, fora o estado de coisas que vivemos, é tempo de esperança. Esperança e crença no movimento pela paz, pela vida e eliminação de todas as forças de atentado à plenitude da vida. Não há nem pode haver espaço para forças antagônicas ao projeto de sociedade alicerçada no respeito incondicional à pessoa humana. Sigamos em frente!
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* Professor da rede pública do DF. Especialista em: Administração da Educação - UnB; Educação na Diversidade e Cidadania com ênfase na EJA - UnB; Educação, Democracia e Gestão Escolar – UNITINS/SINPRO-DF e Culturas Negras no Atlântico: História da África e afro-brasileiros -UnB. Mestre em Educação - UnB. Membro do Grupo de Estudos em Materialismo Histórico Dialético – Consciência e Coletivo Consciência negra Dandara.
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