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Goiás 212 x 207 Rio Grande do Sul



Iniciarei este artigo com uma pergunta direta: Esses empregadores mudarão de profissão ou deixarão Goiás?


O que testemunhamos aqui é algo chocante, abominável e repulsivo. Proprietários de extensas plantações de cana escravizando pessoas em 2023? Não é suficiente submeter esses trabalhadores a uma ocupação árdua com salários baixos e jornadas extenuantes? Por que infligir tamanha crueldade a essas pessoas que dependem de seus salários para sustentar suas famílias? Não há limites para a maldade desses senhores dos engenhos modernos?


O estado de Goiás lidera em crimes contra mulheres, e isso parece nos dar um certo orgulho. Pois o que vemos são promessas de que isso não se repetirá até o próximo fim de semana, uma celebração familiar ou o desejo de uma mulher em se afastar de seu agressor. Em breve, será expedida mais uma medida protetiva impressa em uma folha de papel A4. Sabe o que isso significa? Nada. Essa folha não se transformará em escudo protetor, e quem desrespeitar tal medida acabará em algum cemitério da capital ou de outra cidade do interior do estado ou de estados vizinhos.


Agora, Goiás "tem orgulho" de apresentar o maior número de trabalhadores resgatados de fazendas, outrora chamadas de engenhos, de plantio de cana-de-açúcar. Foram 212 pessoas em condições degradantes, inaceitáveis até mesmo para um animal miserável. Imagine, então, para um ser humano. E com louvor, conseguimos superar os gaúchos e seus 207 escravos do vinho. Chupa gauchada, somos mais cruéis.


Os trabalhadores que tinham condições de comprar um trapo, chamado de colchão, dormiam nesse luxo. Os demais, dormiam no chão frio e duro. O relato do fiscal Roberto Mendes para o UOL é estarrecedor. Se tivessem dinheiro, comiam arroz com salsicha. A empresa não fornecia alimentação, deixava-os em alojamentos mofados, sem ventilação, com goteiras e sem chuveiro. Agora, imagine, após um dia árduo de trabalho, nem chuveiro tinham para banhar seus corpos cansados do labor diário e duro.


A empresa terceirizada das grandes fazendas não era totalmente ruim, querem ver? Vendia os enxadões que deveriam ser fornecidos pelos empregadores, ou podemos chamá-los de senhores dos engenhos modernos?


Pedir equipamentos de proteção era pedir muito? Acredito que sim, pois não forneciam instalações sanitárias, equipamentos de proteção individual para aplicação de agrotóxicos, e esses venenos eram jogados perto de onde as pessoas trabalhavam, ou melhor, estavam em situação de escravidão.


A BP Bunge afirmou que agiu prontamente em defesa dos trabalhadores. Porém, poupe-me. Agiram com rapidez quando a história veio à tona na mídia, isso sim. Tentaram minimizar os danos à imagem da empresa. Que constrangedor.


Sabe quanto economizaram com isso? Mais de R$ 2,57 milhões. Ainda há mais R$ 3,85 milhões de dano moral individual e mais R$ 5 milhões sendo negociados como dano moral coletivo, de acordo com o procurador do trabalho Alpiano Lopes.


Sinto satisfação e tristeza ao fazer este relato. Satisfação em saber que o Ministério Público Federal e a Polícia Federal agiram em favor dessas vítimas e contra esses exploradores. A tristeza surge ao saber que a Polícia Militar de Goiás, Ministério Público de Goiás e outras entidades que poderiam investigar tais denúncias nem sequer apareceram para compor o contexto da operação desencadeada no estado.


Retomando o título desta matéria: Quando esses donos de empresas e fazendas mudarão de ramo de trabalho ou sairão do estado?


Por fim, os proprietários das fazendas não foram encontrados para comentar o assunto. Imagino se houvesse uma ação enérgica da polícia militar neste caso, haveria uma troca de tiros, como comumente ocorre em casos de ilícitos cometidos por pessoas pobres e negras nas periferias de nossas cidades? Ah, e antes que me questionem, não sou contra ações policiais, mas acredito que elas também deveriam acontecer contra pessoas que ostentam uma vida de luxo sustentada pelo trabalho escravo de indivíduos pobres de outros estados do Brasil.


Chupa gauchada, somos mais cruéis.


Luiz Cláudio do Nascimento Cavalcante Assessor Parlamentar - Câmara Municipal de Goiânia Servidor Público do Estado de Goiás (Assistente em Comunicação) Membro da Executiva do Sindicato dos Jornalistas de Goiás - SindJor/GO


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