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Para não esquecer - 30 de abril de 1981 - A bomba do Riocentro



A ditadura militar no Brasil vivia “na base do oxigênio” para sobreviver. As oposições sindicais já se organizavam desde o final da década de 1970, muitos sindicatos já haviam sido reconquistados pelos trabalhadores e iniciavam uma nova fase de mobilização, os movimentos sociais se organizavam e exigiam a volta da democracia, os estudantes voltavam a se organizar e a UNE voltava à cena nacional.


Na noite do dia 30 de abril de 1981, organizado por Chico Buarque e Fernando Peixoto, através do Centro Brasil Democrático, aconteceria um grande show musical contra o regime militar. O local escolhido foi o conhecido centro de convenções do Riocentro, no Rio de Janeiro. Muitos artistas e lideranças populares e sindicais já haviam confirmado a presença naquela noite.


O início do show estava marcado para as 21 horas e muita gente estava ainda chegando ao local, mas, por volta das 21:15 uma bomba explodiu no estacionamento. Em um carro esportivo do tipo Puma. E lá estavam o sargento Guilherme Pereira do Rosário e o capitão Wilson Dias Machado preparavam o atentado. A intenção era explodir a bomba causando grande comoção nacional e colocar a culpa em grupos da esquerda, mas “o tiro saiu pela culatra” em toda a expressão do ditado. A bomba explodiu no colo do sargento Guilherme, que morreu na hora estraçalhado, e feriu gravemente o capitão Wilson.


A verdade sobre o atentado só foi conhecida depois da abertura dos arquivos do coronel reformado do Exército Julio Miguel Molinas Dias, curiosamente assassinado aos 78 anos, em novembro de 2012, em Porto Alegre, vítima de um crime ainda nebuloso (dizem que foi uma “tentativa de assalto que deu errado”). Molinas Dias era o comandante do Destacamento de Operações e Informações — Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) do Rio de Janeiro, o Aparelhão, na época do atentado do Riocentro. E agora sabemos que o “laudo oficial” foi forjado e a versão divulgada de um atentado contra os militares era uma grande mentira.


Na verdade, foi mais uma das ações da chamada “linha-dura” do Exército que não estava contente com a “abertura” que se anunciava. O grupo promoveu um grande número de atentados terroristas para amedrontar a esquerda (bomba na ABI, bomba na OAB, incêndios em bancas de jornais que vendiam os jornais alternativos, etc.).


Na verdade, o relatório descoberto com o coronel Molina mostra: a) o atentado era para ter sido realizado um ano antes; b) o atentado envolvia quinze militares, distribuídos em seis carros; c) a primeira equipe foi exatamente a que errou na preparação da bomba; d) a segunda equipe deveria fazer explodir a estação de eletricidade, mas também falhou porque a bomba errou o alvo e não foi forte o suficiente para apagar todo o local; e) as outras duas equipes estavam fora do pavilhão e deveriam “plantar” evidências para envolver militantes da esquerda e pichariam os muros próximos com a sigla da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) que, diga-se de passagem, já não existia mais em 1981.


A imprensa já estava no local e os militares não puderam impedir que tudo fosse registrado. Tiveram que reconhecer a identidade dos dois agentes, mas calaram sobre todo o resto. O general João Batista de Figueiredo, então presidente do país, divulgou apenas a versão oficial. Mas, em depoimento prestado em 1999, o chefe do SNI, Otávio Medeiros, declarou que o presidente Figueiredo e o chefe do gabinete Militar da Presidência, Danilo Venturini, foram avisados cerca de um mês de antecedência sobre o plano, informado pelo chefe da Agência Central do SNI, Newton Cruz, e nada fizeram para impedi-lo.


Resta registrar que, no primeiro governo Lula, quando o ex-chanceler Celso Amorim era Ministro de Defesa, descobriu que o coronel Wilson Dias Machado ainda ministrava aulas de Organização Social e Política do Brasil no Colégio Militar de Brasília!


*DITADURA NUNCA MAIS.*

Ernesto Germano


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