Já passava à meia-noite, eu deambulava pela cidade, irrequieto, procurando sem saber o quê. E pensei em dar-me onde um dia um lindo pôr do sol vi de relance nuns olhos. A expectativa, sem pairar de dúvidas, era reviver uma ocasião, que já não era possível – era noite – sem crepúsculo, como sem fulgor e borboletas no estômago. Principiei por lá, no entanto, naquele mesmo butiquim, e, com meu ar desconcertado, volvi meu olhar por todos os cantos caçando sem saber o quê, até sombrear os olhos sobre ti. Você, de longe, transpassou-me os olhos, que outrora refletiram tão belo desalentar do sol. Foi um olhar de quem bem conhece e não se sabe conhecer. Minha cabeça dava luz às ilusões, que nela mesmo morriam sequiosas de ação. Mas num ímpeto de astúcia, vesti-me audácia e à um palmo de seus ouvidos soprei-lhe o que era o início da conversa que não tivemos. — Por que nunca mais falamos mais nada? Então, me respondeu algo que ainda não sei. Eu retorqui — Bom, sabe... apaixonei-me pela jardinagem. Acho poético. Ela me permite sensibilidade, zelo e compreensão, afinal, planto, rego e mimo todos os dias rosas e flores que decertas têm a morte. Disse-me algo, talvez, balbuciando duvidosa. Completei — E se um dos motivos para tanta afeição por uma rosa vá além da beleza cintilante e fragrante docemente entorpecente? Arrisco-me a segredar-lhe que, talvez, seja por sabermos que são efêmeras. E se você, minha rosa como a tenho, imagem semelhança da mais bela vida que brotou em meu jardim incipiente, também for de natureza florífera e tenha que desgalgar-se do leito que te rega com ternura, ao final da primavera, eu entendo. Sou Jardineiro. E se um dia desabrochar novamente em meu jardim, torno rega-la com toda afeição. E, então, disse-me algo que ainda não sei.
Apoena é discente de economia, pesquisador iniciante na UEG, e escritor amador nos momentos lúdicos. Ele também escreve artigos político-econômicos no blog Portal Econômico09